Porque a inspiração é uma página em branco, já dizia o poeta.
Não me lembro, de facto, da última vez que me sentei para escrever. Ou que parei para escrever, sequer. Para mim, a escrita surge-me sempre como um impulso, uma necessidade que me assalta a alma sem pedir licença.
Assim sendo, não sei que inspiração é a minha. Sei, com toda a certeza, que é sempre o amor que me leva a escrever. Não há musa maior que o próprio Amor.
Mas nem é sequer sobre isto que quero escrever. Ou melhor, é e não é.
Eu quero escrever sobre ela. Sobre ti, se me leres.
Gosto tanto de ti, e isso é dizer pouco. É começar e acabar por se dizer muito pouco.
É dizer tão pouco. Sempre. E é, ao mesmo tempo e contraditoriamente, dizer a maior das verdades. A verdade das verdades. A verdade, que é só uma e uma se entenda, tão quanto e tão bem:
Gosto muito de ti.
Muito.
E é em esforço que tento passar para palavras aquilo que sinto. Escritos todos os sentimentos são pensados, pensados sobre a melhor maneira de serem ditos.
Não há palavras que cheguem para expressar um sentimento. Mas, no entanto, as palavras dizem muito. Eu sou daquelas pessoas que acredita nas palavras e no seu poder. Eu adoro palavras. Dizem-me tanto, e às vezes tão pouco. E é precisamente por isso que as amo. Eu acredito que as palavras fazem amor.
Les mots font l' amour.
E, apesar das palavras - para além das palavras - existem gestos, suspiros, respirações. Existem momentos e segundos e horas e minutos.
Existem olhares.
Há olhares que se entendem melhor que as palavras, que falam mais alto do que elas.
Eu gosto muito de ti e vou deixar que os meus olhares e os nossos momentos transmitam tudo o resto de que eu não sou capaz. Nem quero.
7.
@
quarta-feira, 30 de abril de 2014
sábado, 5 de março de 2011
"Cesariny Capital"
"Apresentar-te aos deuses e deixar-te
entre sombra de pedra e golpe de asa
exaltar-te perder-te desconfiar-te
seguir de helicóptero até casa
dizer-te que te amo amo amo
que por ti passo raias e fronteiras
que não me chamo mário que me chamo
uma coisa que tens nas algibeiras
lançar a bomba onde vens no retrato
de dez anos de anjinho nacional
e nove de colégio terceiro acto
pôr-te na posição sexual
tirar-te todo o bem e todo o mal
esquecer-me de ti como do gato"
Mário Cesariny
terça-feira, 7 de dezembro de 2010
silêncio ensurdecedor.
não consigo ouvir mais este silêncio.
baque sonoro,
shhhhh!
silêncio.
de garganta fechada as palavras sufocam,
s i l ê n c i o.
na sujeição do tempo ao som
som surdo branco,
contrafaccção de momentos.
parte-se a voz,
e tudo é silêncio.
mestria de som mudo
i n s u p o r t á v e l.
e faz barulho.
a noite susurra
um coro de vozes penetrantes
g r i t a n t e s!
silêncio insuportável,
cala-te!
e num fecho de luzes negras,
fecha-se sobre si,
como uma flor.
baque sonoro,
shhhhh!
silêncio.
de garganta fechada as palavras sufocam,
s i l ê n c i o.
na sujeição do tempo ao som
som surdo branco,
contrafaccção de momentos.
parte-se a voz,
e tudo é silêncio.
mestria de som mudo
i n s u p o r t á v e l.
e faz barulho.
a noite susurra
um coro de vozes penetrantes
g r i t a n t e s!
silêncio insuportável,
cala-te!
e num fecho de luzes negras,
fecha-se sobre si,
como uma flor.
terça-feira, 15 de junho de 2010
|m|
Hoje acordei com uma borbulha, daquelas que não se vêem mas doem.
It got me thinking.
Geralmente, as coisas que não se vêem são as que doem mais.
[Esta cabeça não pára, nunca.]
It got me thinking.
Geralmente, as coisas que não se vêem são as que doem mais.
[Esta cabeça não pára, nunca.]
domingo, 6 de junho de 2010
Devaneio nocturno.
Escureceu cedo.
Em desespero, desprendeu-se das amarras que a sufocavam. Gestos outrora loucos, passos inaudíveis, silêncios presunçosamento esquecidos, tudo isso ficou para trás num tormento com prazo de acabar. Acordou da outrora letargia dos corpos, do acomodar petulante dos sentidos perdidos... Fez-se vida, deu ritmo aos pés e braços esquecidos na efemeridade de movimentos projectados.
Ridículamente, deixara-se sucumbir ao prazer da tortura do passado, permitira que um mundo de fragilidades sentimentais cobríssem toda a luz da esperança da felicidade. Deixara que o medo a vencesse e, mais ridículamente ainda, convencera-se de que controlava o medo, e não o inverso.
terça-feira, 1 de junho de 2010
Flame.
A little of me burns in you
like a fire at the sunset
But you're cold
so cold
that you can set my fire down
You want to drown the flame
It burns and it hurts
And all the time
all the pain
all the stupid things you say
I feel like I'm alone in the deepest of my soul
like the deep blue sea
I'm drowning in pain
I'm dying slowly as you wish
like a fire at the sunset
But you're cold
so cold
that you can set my fire down
You want to drown the flame
It burns and it hurts
And all the time
all the pain
all the stupid things you say
I feel like I'm alone in the deepest of my soul
like the deep blue sea
I'm drowning in pain
I'm dying slowly as you wish
I've lost myself in a thought of you.
passagem do anti-mundo [Mário Cesariny]
II.
"(...)
O amor só amor é já o inferno
diz Dante
mas é o amor que é um fogo devorante
Não me refiro à prestação do calor
o pra baixo e pra cima também os êmbolos fazem
e todos os dias vêm navios ao mundo
Refiro por exemplo a estrela sextavada
que há no corpo do rio que é o amante
é aí que o amor é um fogo devorante."
"(...)
O amor só amor é já o inferno
diz Dante
mas é o amor que é um fogo devorante
Não me refiro à prestação do calor
o pra baixo e pra cima também os êmbolos fazem
e todos os dias vêm navios ao mundo
Refiro por exemplo a estrela sextavada
que há no corpo do rio que é o amante
é aí que o amor é um fogo devorante."
terça-feira, 25 de maio de 2010
Lavagem. Part II
A propósito do meu último post, e em conversa com a minha amiga Sarinha, questionei a minha própria afirmação '(..) é mais natural sentir do que pensar.'
Reconhecer e perceber as emoções é pensá-las, transformá-las em sentimentos. Sentir é pensar.
Sim, sou um mar de contradições. Ou talvez não. Gosto de me repensar, não me envergonho de corrigir algo que disse, escrevi e/ou senti.
Lavagem.
Escrever lava-me a alma. Dizia-o agora em conversa no émiéssiéne.
Toda a gente tem algo que lhes lava a alma, um secret place onde desembocam todas as palavras, todos os sentimentos antes de serem palavras. Transformar o que se sente em palavras é um processo extraordinário mas nem sempre tão natural, é mais natural sentir do que pensar. E não o contrário.
At least for me.
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