terça-feira, 7 de dezembro de 2010

silêncio ensurdecedor.

não consigo ouvir mais este silêncio.
baque sonoro,
shhhhh!
silêncio.
de garganta fechada as palavras sufocam,
s i l ê n c i o.

na sujeição do tempo ao som
som surdo branco,
contrafaccção de momentos.
parte-se a voz,
e tudo é silêncio.
mestria de som mudo
i n s u p o r t á v e l.
e faz barulho.

a noite susurra
um coro de vozes penetrantes
g r i t a n t e s!
silêncio insuportável,
cala-te!
e num fecho de luzes negras,
fecha-se sobre si,
como uma flor.

terça-feira, 15 de junho de 2010

|m|

Hoje acordei com uma borbulha, daquelas que não se vêem mas doem.
It got me thinking.
Geralmente, as coisas que não se vêem são as que doem mais.
[Esta cabeça não pára, nunca.]

domingo, 6 de junho de 2010

Devaneio nocturno.

Escureceu cedo.
Em desespero, desprendeu-se das amarras que a sufocavam. Gestos outrora loucos, passos inaudíveis, silêncios presunçosamento esquecidos, tudo isso ficou para trás num tormento com prazo de acabar. Acordou da outrora letargia dos corpos, do acomodar petulante dos sentidos perdidos... Fez-se vida, deu ritmo aos pés e braços esquecidos na efemeridade de movimentos projectados.
Ridículamente, deixara-se sucumbir ao prazer da tortura do passado, permitira que um mundo de fragilidades sentimentais cobríssem toda a luz da esperança da felicidade. Deixara que o medo a vencesse e, mais ridículamente ainda, convencera-se de que controlava o medo, e não o inverso.

terça-feira, 1 de junho de 2010

Flame.

A little of me burns in you
like a fire at the sunset
But you're cold
so cold
that you can set my fire down
You want to drown the flame


It burns and it hurts
And all the time
all the pain
all the stupid things you say
I feel like I'm alone in the deepest of my soul
like the deep blue sea
I'm drowning in pain
I'm dying slowly as you wish


I've lost myself in a thought of you.

A.falência.do.fruto.proíbido

estilhaços.
Adão.
Eva.
maçã.

passagem do anti-mundo [Mário Cesariny]

II.


"(...)
O amor só amor é já o inferno
diz Dante
mas é o amor que é um fogo devorante

Não me refiro à prestação do calor
o pra baixo e pra cima também os êmbolos fazem
e todos os dias vêm navios ao mundo
Refiro por exemplo a estrela sextavada
que há no corpo do rio que é o amante
é aí que o amor é um fogo devorante."

terça-feira, 25 de maio de 2010

Lavagem. Part II

A propósito do meu último post, e em conversa com a minha amiga Sarinha, questionei a minha própria afirmação '(..) é mais natural sentir do que pensar.'
Reconhecer e perceber as emoções é pensá-las, transformá-las em sentimentos. Sentir é pensar.
Sim, sou um mar de contradições. Ou talvez não. Gosto de me repensar, não me envergonho de corrigir algo que disse, escrevi e/ou senti.

Lavagem.

Escrever lava-me a alma. Dizia-o agora em conversa no émiéssiéne.
Toda a gente tem algo que lhes lava a alma, um secret place onde desembocam todas as palavras, todos os sentimentos antes de serem palavras. Transformar o que se sente em palavras é um processo extraordinário mas nem sempre tão natural, é mais natural sentir do que pensar. E não o contrário.
At least for me.

O Grito

O grito ecoou na madrugada celestial.
As ruas vazias encheram-se de palavras ocas, silenciosas, multidões de gestos sem sentido. Mas esse grito, O GRITO, permaneceu intocável num solo ensaiado de luzes negras.
A noite é palco desse grito interior, O GRITO, solto a vozes nulas de um segredo sem fim.

"We're so miserable and stunning." Fall Out Boy

Gastou o soneto
no papel da canção.
Gastou a
canção
na voz a multidão.
Gastou a
multidão
no deserto da solidão.
Gastou a solidão,
não pagou um tostão.
Na voz da solidão,
fez-se ouvir
fez do soneto
canção,
e
multidão.